terça-feira, novembro 07, 2006

amigos

AMIGOS
Tenho amigos que não sabem
o quanto são meus amigos.
N?o percebem o amor que lhes devoto
e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento
mais nobre do que o amor.
Eis que permite que o objeto
dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem
intrínseco o ciúme,
que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar,
embora não sem dor,
que tivessem morrido
todos os meus amores,
mas enlouqueceria
se morressem
todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem
o quanto são meus amigos
e o quanto minha vida
depende de suas existencias.
A alguns deles não procuro,
basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição
me encoraja a seguir
em frente pela vida.
É delicioso que eu saiba
e sinta que os adoro,
embora não declare
e não os procure.
E ás vezes, quando os procuro,
noto que eles não teo não
de como me são necessários,
de como são indispensáveis
ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte
do mundo que eu,
tremulamente,
construí.
E me envergonho,
porque essa minha prece é em síntese,
dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos
sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima
por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer.
Se alguma coisa me consome e me envelhece
é que a roda furiosa da vida
n?o me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo,
falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e,
principalmente os que não desconfiam
ou talvez nunca vão saber
que são meus amigos!
A gente não faz amigos,
reconhece-os.
Vinícius de Moraes

Nenhum comentário: